Exemplo 1  |  Abertura do diafragma (f/) e profundidade de campo

Exemplo 2 | Velocidade de obturação

Exemplo 3 | ISO

Exemplo 4 | Cor

Questões técnicas

Como este documento se dirige a um conjunto de pessoas que trabalham ou nutrem interesse pelo património azulejar, mas raramente têm conhecimentos de fotografia, segue-se uma introdução, sucinta, aos conceitos básicos da técnica fotográfica. Pretende-se que a compreensão destes conceitos básicos se traduza em escolhas mais conscientes durante o acto fotográfico e, assim, se produzam fotografias melhores, e mais informativas, do património azulejar português.


ABERTURA DO DIAFRAGMA, VELOCIDADE DO OBTURADOR, ISO
Nunca é demais chamar a atenção para a necessidade de produzir documentos fotográficos de boa qualidade. O facto de tal acontecer com pouca frequência deve-se, em traços gerais, a dois factores. Por um lado, a maioria das câmaras fotográficas utilizadas são pequenas e compactas, o que tem a vantagem de serem muito portáteis, mas a grande desvantagem é a de não terem boa qualidade de lente e/ou de sensor. Por outro lado, a pessoa responsável por captar as imagens trabalha, normalmente, com a câmara em modos automáticos.

Não cabe neste documento, nem é seu objectivo, sugerir modelos de câmaras ou criticar abertamente hábitos, mas sim realçar os problemas que esta conjugação de factores implica na produção de documentos visuais válidos. Exige-se, a uma câmara fotográfica para registar patrimó- nio, muito mais qualidade do que a outra que sirva para registar momentos do quotidiano. Mas, se por alguma razão não se pode dispor de uma câmara de maior qualidade, então exige-se ainda mais atenção e controlo dos parâmetros de captação de imagem.

Os três parâmetros fundamentais (e interdependentes) são: abertura do diafragma, velocidade de obturação e ISO. Porque a captação de uma imagem resulta da conjugação destes parâmetros, estes devem ser escolhidos em função do que se pretende documentar. Em modo automático, a câmara limita-se a fazer uma escolha segundo regras pré-definidas. Mas a responsabilidade da produção de uma fotografia de património não deve recair sobre uma escolha aleatória de uma câ- mara fotográfica. Assim, segue-se uma explicação esquemática destes parâmetros de maneira a que as escolhas possam ser feitas em face do cenário encontrado


1) Abertura do diafragma (f/) e profundidade de campo
O diafragma é o dispositivo da câmara fotográfica semelhante à pupila do olho humano. Este regula a quantidade de raios de luz que entram dentro da câmara fotográfica, dependendo do diâmetro da sua abertura. Esse diâmetro de abertura traduz-se num número (f/) que se apresenta segundo a seguinte sequência:

f/: 2; 2.8; 4; 5.6; 8; 11; 16; 22; 32; 45; 64, etc.

A quantidade de luz que entra, dependente do número f/, tem como efeito uma maior ou menor profundidade de campo. Embora o foco esteja sempre apenas num ponto, consegue-se uma área maior ou menor de nitidez na imagem, conforme o f/ escolhido. De um modo muito sucinto a relação entre o número f/ e a profundidade de campo pode ser traduzida do seguinte modo:

Números f/ baixos ( 2; 2.8 ; 4) → Grande abertura do diafragma → Entrada de muita luz → Menor área de nitidez (menor profundidade de campo);
 
Números f/ altos ( 11; 16 ; 22, etc..) → Pequena abertura do diafragma → Entrada de menos luz → Maior área de nitidez (maior profundidade de campo).


Uma menor profundidade de campo é especialmente evidente se o assunto fotografado estiver em perspectiva.

Exemplo 1
f/ 22
f/ 9.0
f/ 4.5

NOTA
Nas câmaras fotográficas existe uma função denominada Av ou A, dependo dos modelos, em que se pode definir a abertura do diafragma pretendido e a câmara define automaticamente a velocidade ideal em função da quantidade de luz que incide sobre o objecto.


2) Velocidade de obturação
O obturador é o dispositivo que abre e fecha, regulando o tempo a que o sensor está exposto à luz. A velocidade de obturação tem dois efeitos:
1) produzir uma imagem exposta correcta ou incorrectamente (fotometria);
2) produzir uma imagem bem definida ou tremida.

Uma fotometria correcta é aquela que se traduz numa imagem bem exposta à luz, isto é, com todos os elementos bem iluminados e em que as zonas de luz [1] e de sombra tenham informação. No entanto, se a velocidade de obturação for demasiado rápida para o f/ definido, vai-se produzir uma imagem excessivamente escura (subexposta). Se a velocidade de obturação for demasiado lenta para o f/ definido, vai-se produzir uma imagem excessivamente clara (sobreexposta).

Exemplo 2
f/ 9.0, 1/100 | Fotografia exposta correctamente
f/ 9.0, 1/1600 | Fotografia subexposta [sem informação nas zonas mais escuras]
f/ 9.0, 1/60 | Fotografia sobreexposta [sem informação nas zonas mais claras]

[1] Ver mais à frente Pontos de grande incidência de luz.

Tempos de obturação lentos têm também como característica dar origem a fotografias tremidas. Idealmente, todas as fotografias deveriam ser feitas recorrendo à utilização de um tripé evitando que tal aconteça pois, apesar de as velocidades envolvidas estarem nas décimas de segundo, pode acontecer que uma imagem fique tremida com velocidade definida a 1/60. Nunca é demais referir que o momento da captação de fotografias de património é algo de grande importância e que não deve ser efectuado com ligeireza. Quem estiver a fotografar deve adoptar uma postura física estável no momento de captação da imagem.

Em termos gerais, define-se a relação entre a abertura do diafragma e o tempo de exposição do seguinte modo:

Velocidades altas (dependendo do f/ definido) → menor entrada de luz (que pode resultar numa fotografia subexposta);

Velocidades baixas (dependendo do f/ definido) → maior entrada de luz (que pode resultar numa fotografia sobreexposta). Fotografia possivelmente tremida.


NOTA
Nas câmaras fotográficas existe uma função denominada Tv ou S, dependendo dos modelos, em que se pode definir a velocidade de obturação pretendida e a câmara define automaticamente o número f/ ideal em função da quantidade de luz que incide sobre o objecto.


3) ISO
Este parâmetro (assim como o seu nome) deriva das películas fotográ- ficas. Na câmara fotográfica digital o ISO (International Standards Organization), define a sensibilidade do sensor. Pode-se verificar que, se o ISO for subido na câmara digital (p.e. 1600 ISO), esta vai conseguir fazer imagens em situações com menor incidência de luz porque tem um elevado valor de sensibilidade mas as fotografias apresentarão menos definição devido a uma textura, denominada ruído digital. Por outro lado, se o ISO escolhido for baixo (80 ou 100), as fotografias não apresentarão textura e serão mais definidas, mas vão precisar que o objecto fotografado tenha mais luz incidente porque foi definido um valor menor de sensibilidade.
 
Como resultado esta maior ou menor sensibilidade à luz tem influência na velocidade de obturação e/ou no f/ definido. Resumidamente, essa relação traduz-se da seguinte maneira:

Valores ISO baixos (80 a 200) → Necessita de mais luz → Velocidades mais lentas e/ou número f/ mais baixos → imagens mais definidas (menor ruído digital);
 
Valores ISO altos (maior que 800) → Necessita de menos luz → Velocidades mais rápidas e/ou número f/ mais altos → imagens menos definidas (maior ruído digital).


​De uma maneira geral, o ISO deve estar no seu valor mais baixo, até porque dependendo da qualidade da câmara o ruído digital pode-se agravar. Se o assunto a ser fotografado tiver pouca incidência de luz o ISO deve ser subido progressivamente, mas sempre o menos possível.

Como é possível perceber pela legenda do exemplo 3, o aumento do valor de ISO permite que se aumente a velocidade de obturação para a mesma abertura de diafragma. Todavia, como se pode perceber por estas imagens, quanto maior o valor de ISO maior é a deterioração da qualidade da imagem com ruído digital. Esta deterioração da qualidade da imagem varia consoante a qualidade da câmara fotográfica, sendo que o ruído digital se agrava quanto menor for a qualidade do modelo de câmara utilizado.

Exemplo 3
ISO 200 (f/ 8 v: 1/80)
ISO 400 (f/ 8 v: 1/160)
ISO 800 (f/ 8 v: 1/320)
ISO 1600 (f/ 8 v: 1/640
ISO 3200 (f/ 8 v: 1/1250)
ISO 6400 (f/ 8 v: 1/2500)



PONTOS DE GRANDE INCIDÊNCIA DE LUZ
O azulejo, como material reflexivo, apresenta grandes problemas sobretudo quando há uma grande incidência de luz. É comum ver-se pontos brancos em partes de superfícies azulejadas. Esses pontos brancos não têm informação, ou seja, é difícil ou impossível recuperar os elementos sobre os quais estes assentam. Isto resulta numa imagem com problemas de leitura, e deve ser evitada o mais possível recorrendo a uma ligeira mudança de posição na tomada de vista e/ou recorrendo ao auxílio de um elemento que corte a luz como, por exemplo, uma flanela preta. Logicamente, o uso do flash deve ser eliminado na fotografia de azulejos [2] dando-se preferência ao uso de um tripé e a velocidades de obturação mais lentas.

[2] A utilização do flash exige um conjunto de conhecimentos técnicos que permitem avaliar a necessidade e as condições para o seu uso correcto. Comummente, as fotografias de património azulejar não são feitas por pessoas que possuem esse tipo de conhecimentos o que se traduz num uso do flash com consequências quase sempre ruinosas, produzindo-se fotografias que oferecem mais problemas do que informações úteis.
 


COR
Outra característica comum nos revestimentos azulejares, especificamente de padrão, é a presença de alguns azulejos com cores diferentes da totalidade do revestimento. Importa documentar o conjunto de modo a ser perceptível se tal mudança de cor se deve a uma ligeira mudança da tonalidade (provocada muitas vezes por uma determinada técnica ou alteração da temperatura da cozedura), correspondendo ainda assim ao mesmo padrão, ou se o conjunto foi completado com elementos de outro padrão. Esta informação é essencial, uma vez que se deve catalogar todos os padrões presentes num imóvel, mesmo que se trate de azulejos colocados posteriormente.

A tonalidade prevalecente no conjunto azulejar do exemplo 4 é o branco. No entanto existem azulejos com uma tonalidade mais escura. Importa documentar estas mudanças de tom, a fim de apurar se estamos perante um ou dois números de catálogo presentes no mesmo imóvel.