Introdução

O presente guia é uma proposta de modelo para inventariar revestimentos em azulejo que se conservam in situ.
 
Resulta de uma parceria entre o Az Rede de Investigação em Azulejo, o Museu Nacional do Azulejo e o SIPA (Direção-Geral do Património Cultural). Como tal, enquadra-se no trabalho de inventário que tem vindo a ser desenvolvido pelas instituições referidas e que, na área específica do azulejo, tem visibilidade no Az Infinitum – Sistema de Referência e Indexação de Azulejo.

A estratégia de cruzamento de dados, provenientes da inventariação e da Introdução investigação, que está na base do Az Infinitum, tem no inventário in situ um dos seus pilares.
 
Foram vários os investigadores que se propuseram realizar um inventário da azulejaria nacional desde a segunda metade do século XIX, quando o azulejo assumiu importância na área do coleccionismo integrando algumas exposições que culminaram na primeira mostra monográfica, em 1947 e, já na década de 1960, com a criação do Museu do Azulejo. Liberato Telles elencou, em 1896, num Mappa auxiliar para a classificação dos azulejos, os exemplares datados conhecidos à época [1]. Por sua vez, José Queiroz e Vergílio Correia integraram a Comissão de Inventariação dos Azulejos do Estado, o primeiro entre 1916 e 1920, e o segundo depois de 1920. Já em meados do século XX, João Miguel dos Santos Simões, integrado nas Brigadas de Azulejaria da Fundação Calouste Gulbenkian, iniciou o trabalho de inventário da azulejaria dos séculos XV ao XVIII, que seria depois editado em vários volumes pela mesma fundação [2]. Esta obra, na qual o autor reconhece não ter registado todos os espaços com revestimentos cerâmicos, continua, no entanto, a ser a base a partir da qual se desenvolve grande parte dos estudos sobre azulejo. Outros inventários foram efectuados mais recentemente, por instituições públicas ou privadas, mas quase sempre incidentes sobre o seu próprio património. Um projecto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia em 2006, procurou reavaliar o inventário do século XVIII, de Santos Simões [3], reabrindo assim a discussão sobre a necessidade de dispor de um inventário nacional, em permanente actualização e incluindo toda a azulejaria, desde as primeiras aplicações mudéjares de importação até à produção contemporânea.
 
O Az Infinitum procura responder a este desafio, e a disponibilização do presente guia inscreve-se no objectivo maior que é o de construir um inventário do património azulejar produzido e/ou aplicado em Portugal, e que permanece in situ. Não se pretende que toda a informação seja carregada no Az Infinitum, mas sim que o trabalho de inventário possa ser efectuado de acordo com estratégias já definidas e testadas, criando-se assim as condições necessárias para uma eficaz partilha de informação.

As secções e/ou painéis em azulejo que, pelas mais variadas razões, foram retiradas dos seus locais originais e se conservam em contexto museológico, estão salvaguardadas por essas mesmas instituições, sendo inventariadas como património móvel [objectos]. Por sua vez, os revestimentos que se mantêm in situ conservam, na generalidade, o contexto para o qual foram concebidos, aspecto fundamental de uma arte que foi pensada para a arquitectura e que só pode ter uma leitura global na sua relação com o suporte arquitectónico. Como tal, é um património muito mais exposto, facilmente alvo de vandalismo, de roubo ou de descontextualização.
 
O inventário do azulejo in situ assume, neste sentido, grande importância no que diz respeito ao registo e estudo dos revestimentos, mas assume também um papel muito significativo como instrumento de salvaguarda.


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[1] Liberato TELLES - Duas palavras sobre pavimentos. Lisboa: Typ. da Companhia Nacional Editora, 1896.

[2] João Miguel dos Santos SIMÕES – Azulejaria portuguesa nos Açores e na Madeira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1963; João Miguel dos Santos SIMÕES – Azulejaria portuguesa no Brasil: 1500-1822. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1965; João Miguel dos Santos SIMÕES – Azulejaria em Portugal nos séculos XV e XVI. 2ª Ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990 [1969]; João Miguel dos Santos SIMÕES – Azulejaria em Portugal no século XVII. 2ª Ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997 [1971]; João Miguel dos Santos SIMÕES – Azulejaria em Portugal no século XVIII. Fundação Calouste Gulbenkian, 1979.

[3] João Miguel dos Santos SIMÕES; CÂMARA, Alexandra Gago da – Azulejaria em Portugal no século XVIII. Edição Revista e Actualizada. Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.